sexta-feira, 20 de agosto de 2010

À D. Juan de Sonora

Estranho aquele homem,
olhou-me de frente
e os meus olhos foram puxados
pelos seus grandes olhos.
Aproximou-se do meu ouvido
e falou-me: você foi escolhido
para ser um homem de conhecimento!
-”A arte de um homem de conhecimento
é equilibrar o terror de ser homem,
com a maravilha, de ser homem”...
A sua voz sonora,
rítmica,cadenciada e firme,
exerceu incrível poder
sobre o meu comportamento.
Pediu-me para repetir
alguma coisa que estava dizendo.
Quando pronmunciei a primeira palavra,
o som não saía para fora,
reverberava dentro de mim
e eu sentia um efeito
estranho,avassalador.
Era como se uma explosão
se repetisse
em meu mecanismo fonador .
Aquela angústia me dominava
e eu perdia a nocção física
da minha indivualidade.
Ao se aproximar,novamente,
os seus olhos davam-me a impressão
de dois grandes lagos.
Eu estava imerso
na sua profundidade.

Todo o seu corpo era fluído
e eu o atravessava
como se fora
uma película transparente
que me dava passagem
a um outro mundo,
a uma nova dimensão.
Ouvi um ruído estranho,
voltei à realidade,
diante de mim estava
o mesmo homem.
Eu sabia que era ele,
mas,o via de outra forma.
Era um Ser Luminoso,ofuscante.
Nesse instante,passei a perceber
coisas diferentes.
Passei a enxergar,
vendo coisas na interioridade,
ou melhor,deixei de enxergar
e passei a “ver”.
Aquele homem simples
estava ali,diante de mim,imóvel.
A sua vontade era uma força à qual
não havia reação.
De repente ele começou
a desafiar as leis do equilíbrio.
Sem se mexer,saía da verticalidade
para a horizontalidade
e flutuava
e sentava sobre a cabeça
e fazia coisas incríveis.
Era como se ele tivesse algo
como molas que o sustentavam,
impedindo-o de cair.
Eu estava extasiado, confuso!
Percebi que tais movimentos
eram controlados
por um feixe de luz
nas cores, branca, amarela, azul-esverdeada,
em longos filamentos
que eram emitidos
da altura do seu umbigo.
Esse feixe de luz
era emitido antes dos seus movimentos
e se agarrava às coisas.
Foi assim que eu vi
esse estranho Ser
subir a grandes precipícios
como homem
e voltar como pássaro veloz.
Esse era o mecanismo da vontade,
os feixes luminosos
do seu plexo solar,
que exercia poder invencível
sobre todas as coisas,
sobre todos os homens.
Passado aquele espetáculo
ele ordenou que me sentasse,
tomou as minhas mãos e falou:
- Vamos caminhar pelos mundos
em viagem fantástica e surpreendente!
Atravessamos os Universos
penetrando às frestas dos mundos.
A minha visão me permitia
ver para trás e para a frente,
isto é, os séculos que se foram
e os que estavam por vir.
-Você vai se tornar
um homem de conhecimento,
repetia aquele homem.
-Um homem de conhecimento,
não pensa, age, decide!
Entre os vários caminhos,
ele escolhe um caminho de coração
e depois o segue, sabendo,
que não vai a lugar algum,
porque, para ele
nada é importante
-Estamos no desconhecido,
só nós podemos resolver
se voltaremos ou não!
É esta a última encruzilhada
onde nos encontramos.
-Nós somos os percebedores,
uma consciência,
não somos objetos,
não temos solidez,
somos ilimitáveis,
somos uma sensação
e o que chamamos, o nosso corpo,
é um feixe de fibras luminosas
que têm consciência.
Por este veículo,
voltamos à realidade...
Eu não sentia o meu peso,
parecia estar dividido
e recebi ordem ,
para permanecer deitado
até voltar ao meu estado normal.
Passou-se um longo tempo!
Quando me despedi,
estarrecido e maravilhado,
ouvi o seguinte:
“Nós, agora, seremos
como poeira na estrada,
talvez, um dia,
torne a entrar nos seus olhos”.

...e nunca mais,
nos encontramos!!!

Uma homenagem a Carlos Castañeda

Zeno Manickan

Nenhum comentário:

Postar um comentário